Como foi dito, esses vários estados, mesmo que distintos em perfeição, todos são igualmente bons e aceitos por Deus; e cada um dele é um caminho seguro que conduz ao paraíso, sendo alguns mais rapidamente, outros com maior dificuldade e trabalho. Mas que ninguém se iluda e acredite ter feito tudo ao escolher um estado de vida de natureza louvável: pois se no estado bom não vive bem e não preenche as obrigações da sua vocação, em vão será a bondade do seu estado; pelo contrário, como servo péssimo e desobediente, que sabia a vontade do seu senhor e não se preocupou em segui-la, será severamente punido.

Não creia, portanto, o casado, que mesmo não estando obrigado pelo vínculo da vida religiosa, nem espoliado dos próprios bens e do uso da potestade da carne, e que não tenha finalmente se privado da sua própria vontade, não creia, digo, estar por isso solto e livre de toda obrigação.

Pois muitas são as obrigações dos casados, principalmente aquelas que alguns acreditam não ter, e principalmente a respeito da observância inviolável da fé e da castidade conjugal, como será dito mais adiante. Ninguém diga: eu não sou nem monge nem frei, não fiz voto nem promessa de castidade, de pobreza ou de obediência; pelo contrário diga: sou Cristão, fiz no batismo o grande voto e a nobre promessa de militar sob o comando de Jesus Cristo Crucificado, e de seguir a sua lei com o auxílio da sua graça divina; renunciei solenemente à tirania do demônio e do mundo e coloquei meu pescoço sob o jugo suave de Jesus Cristo. 

Portanto aquele que, com conselho amadurecido, como se dirá adiante, tenha eleito a vida e o estado matrimonial, tenha com alegria suas núpcias, mas convide Jesus para elas, como fez aquele sábio esposo de Caná da Galileia, para que o onipotente hóspede converta do mesmo modo as águas em vinho na sua casa. Que os casados possuam também os seus bens, mas com Jesus Cristo. Sejam livres, mas com a liberdade de espírito e não da carne, liberdade esta infernal da qual Jesus Cristo nos libertou. Atenda à geração dos filhos, mas pela glória e honra de Jesus Cristo.

Em suma, recordando que a cada um foi dito e comandado pelo Supremo Legislador: “Se queres entrar na vida eterna, observa os mandamentos”, procure com toda dedicação e diligência realizar as obrigações do próprio estado, e de viver bem e santamente o santo matrimônio.