O profeta Davi, repleto do Espírito Santo, no Salmo 44 nos descreve as núpcias do Esposo Celeste, Jesus Cristo, com a sua amada Esposa a Santa Igreja. E depois de ter cantado altamente sobre a beleza e sobre o reino do celeste Esposo, dedica-se a narrar os louvores da jovem Esposa, a qual representa pela imagem de uma nobilíssima rainha, sentada à direita do seu querido consorte, ornada de riquíssimos adornos, coberta com uma veste de outro e circundada por um manto, bordado com vários detalhes, tecido com sumo artifício com diversas cores e veludos. Essas ricas telas e bordados que adornam as vestes dessa grande rainha, nos remetem e simbolizam a diversidade e variedade dos vários estados na Santa Igreja militante, isto é, o das Virgens, dos Celibatários e dos Casados.

Dado que há alguns que, renunciando às solicitudes do século, e tendo feito um perfeito holocausto de si mesmos a Deus, vivem na carne quase fora da carne uma vida mais angélica que humana; outros ainda, ligados ao jugo matrimonial, entre os cuidados domésticos e muitas ocupações da vida civil, como que navegando por um mar agitado, se fadigam por encontrar o porto do verdadeiro repouso. E ainda que entre esses haja estados semelhantes na Santa Igreja com diferentes graus e dignidade, todos são belos, todos santos, todos enfeitam a nobre Esposa; e todos consequentemente são gratos a agradáveis aos olhos do Eterno Esposo. Este não somente se compraz com aqueles, que nos santos claustros e nos montes e pelos bosques vivem com a bela Raquel estéril, com a vista aguçada e como os olhos reluzentes contemplando Deus; mas se alegra também grandemente em ver a sua dileta Esposa adornada com numerosa tropa de homens ativos e operosos, que com Lia, ainda que não tão bela, porém fecunda, si fadigam nos exercícios da vida ativa. E assim, como de muitas e distintas vozes, as quais soam diferentemente com grande concórdia, nasce ali uma dulcíssima harmonia e concerto; e como dos vários e distintos membros, destinados pela natureza a operações separadas e diversas, resulta disso um único corpo, belíssimo de se ver, utilíssimo de se conservar, aptíssimo a agir; assim, de tanta variedade de estados, que estão na Santa Igreja, procede uma maravilhosa união, e é formado este corpo espiritual, cuja cabeça é Jesus Cristo, tão organizado e tão forte, que afasta o inferno, tão harmônico e tão belo, que faz apaixonar-se Deus e todo o paraíso.